domingo, 13 de julho de 2008

O NOVO INDIVÍDUO, O NOVO MUNDO

Construimos um novo mundo, uma nova sociedade, um novo indivíduo. Porque hoje, cada vez mais, vivemos a individualidade. E isso é uma nova experiência para a espécie humana. Novos desafios são-nos lançados, ao nos encontrarmos confrontados com um mundo complexamente imenso e completamente entregues a nós próprios.

Estamos deixando de ser uma sociedade de grupos, de classes, para sermos uma sociedade de indivíduos. É essa a ideia subjacente à Declaração dos Direitos Humanos. E foi este o primeiro sinal evidente que um novo mundo se anunciava para a Humanidade.

Temos de reaprender tudo. Temos de aprender aquilo que os ancestrais costumes e modelos não nos podem ensinar, pois agora a História já não se faz de Passado, mas sim de Futuro. A actual História da Humanidade faz-se das espectativas em relação à própria continuidade da existência da espécie Humana. A História, a Arqueologia, a Antropologia, a Paleontologia, já testemunharam a extinção de inumeras espécies. Desta vez a História estuda a ameaça de extinção da nossa própria espécie.

Seremos assim tão sagazes que saberemos nos esquivar a essa ameaça cada vez mais declarada e evidente?

Indícios científicamente demonstrados testemunham já alguns pré-sinais do surgimento de uma nova espécie Humana; o sucessor do Homo Sapiens. E se reflectirmos desapaixonadamente poderemos até ter alguns vislumbres de como essa nova espécie poderá ser. Sabendo nós que os organismos vivos se adaptam e adequam ao meio ambiente e ao modo como vivem, fácil será anteciparmos alguns padrões base dessa nova espécie.

Tudo se desenvolve a partir do declínio dos arquétipos obsoletos dos modelos sociais e da inadequação metabólica dos corpos humanos a novos estilos de vida e interacção com o meio-ambiente.
Nós descendemos duma linhagem primitiva de caçadores-recolectores que se agrupavam em clãs tribais baseados em micro-células familiares. Essas foram as condicionantes nucleares para o desenvolvimento metabólico e social da nossa espécie. Esses pressupostos não se verificam mais e daí vemo-nos cada vez mais desajustados do mundo, que ao longo da história fomos criando para nós próprios.

Queixamo-nos da obesidade cada vez mais disseminada. Basta ver que o nosso metabolismo foi desenhado para uma espécie que tinha de perseguir caça e procurar arduamente por alimentos, além de ter de se prover de reservas de gordura que lhe possibilitassem a subsistência nos períodos de escassez de recursos. Hoje nada disso acontece, só temos de abrir a porta do frigorífico para encontrar tudo aquilo que necessitamos e muito mais, mas o metabolismo continua funcionando do mesmo modo para o qual foi primariamente moldado: acumular.
Deixamos de ter existências fisicamente mais dinâmicas para termos existências intelectualmente mais activas. Substituimos o nomadismo e a actividade física, pelo sedentarismo e a actividade mental. Já não temos de recorrer à actividade física para nos alimentarmos e cada vez menos recorremos a ela para assegurar a função de providenciar a obtenção do nosso sustento. Contudo o metabolismo dos nossos corpos continua acomulando reservas, tal como foi programado para o fazer quando as condições de sobrevivência humana eram mais precárias e difíceis.

A nível social criámos sentimentos fortemente gregários que nos instavam a nos congregarmos em grupos coesos, cujos membros se apoiavam e defendiam mutuamente, perante as muitas adversidades com que se deparavam no seu mundo. Esses grupos tinham de estabelecer códigos e regras de interacção, que possibilitassem a sua própria manutenção, como organismo social. Daí se criaram as bases das hierarquias e da Lei. Mas num mundo em que o indivíduo isolado não tinha condição para sobreviver a um mundo hostil, o peso da coesão grupal sobrepunha-se ao direito à individualidade. Então não desenvolvemos as bases dum verdadeiro auto-reconhecimento individual apartado do grupo.
A nossa experiência actual indica-nos que cada vez mais a nossa postura social está orientada na procura do eu-individual em detrimento do eu-grupal.

2 comentários:

sol poente disse...

ManDrag
O Sol Poente é um projecto solidário do qual, além do Silêncio Culpado, fazem parte outros blogues dedicados a causas.
Neste momento o Sol Poente prepara-se para dar início a um ciclo de textos sobre a homossexualidade e o direito à diferença através do reconhecimento social e na lei.
Nesta altura é um problema "quente" em Portugal dado que o governo PS admite vir a defender além de vários direitos dos casais homo, o direito a contrairem matrimónio e a adoptarem.
Porém o assunto é fracturante até mesmo no seio do próprio partido do Governo. Vamos pois contribuir para o esclarecimento e para dar força a quem luta contra a discriminação.
Um texto teu seria também uma mais valia. Se concordares, poderás enviá-lo para lnsoares@aeiou.pt.
Porém, em qualquer dos casos, a mobilização de todos é fundamental.
Abraço

Lídia Soares

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag
As sociedades actuais viradas para o consumo e para a concentarção nos grandes centros urbanos, perderam grande parte das suas características solidárias. Também as novas tecnologias retiraram espaços de convívios próximos e afectivos.
O teu magnífico post fala sobre o homem novo que há-de ser formado para viver noutro estádio de desenvolvimento. Eu acredito nesse homem novo e nesse novo mundo e, por isso, me empenho em caminhar na sua construção procurando pessoas que também acreditam, juntando pedras, deitando à terra sementes.Quem sabe um dia?
Abraço