sexta-feira, 25 de julho de 2008

MULTI-DIVERSIDADE

Hoje só nos resta viver o Futuro.

Tradição, nação, pátria, identidade cultural. Não podemos continuar apegados a velhos paradigmas se queremos construir um mundo melhor. Desde sempre as nações conviveram, mais ou menos belicosamente, com os seus vizinhos numa afirmação das suas diferenças. Servindo-se das diferenças ou similaridades para promover disputas e anexações territoriais; mas sempre com o fim derradeiro de impôr a sua vontade e supremacia aos demais.

Para a construção duma paz duradoura não nos podemos impôr o desafio mais improvável de todos: o de tentar harmonizar costumes contraditórios de diferentes culturas. A própria ideia de Pátria ou Nação, seja lá isso o que for, é descabida num mundo que se pretende pacífico e motivado num propósito comum: o de dar a cada um dos seus cidadãos a dignidade que lhe é devida. Descabida num mundo em que cada vez mais a individualidade de cada um se sobrepõe à hegemonia de modelos condicionadores e inibidores da singularidade, assim como o seu direito a essa identidade própria.

As diferentes culturas e tradições surjiram ao longo do desenvolvimento dos povos como uma adaptação às condições do meio em que viviam. Em contacto com outros povos, de origens diversas, essas diferenças do modus vivendus serviam como referencial identificador. E de gestos práticos, com um desígnio utilitário, passaram a marcadores folclóricos duma identidade cultural, posteriormente nacional.

A civilização do Século XXI baseia-se na livre circulação de indivíduos, conhecimentos, produtos e costumes. Quando grandes empresas exportam os seus produtos por todo mundo, junto com essas mercadorias vai um acervo cultural relacionado com o propósito e utilização dessa mercadoria. Assim aqueles que mais poder económico têm, mais produzem e mais exportam, colonizando assim culturalmente todos aqueles que passarem a consumidores dos seus produtos.

Podem ser muito pitorescas e turisticamente aliciadoras, as tradições regionais, algumas com milénios de existência, mas na sua maioria estão completamente obsoletas e desprovidas de todo o seu sentido ao perderem o seu propósito inicial. Não passam de postais animados para os turistas levarem nas suas câmaras de foto ou vídeo, como recordação. E depois queremos afirmar direitos de preservação cultural por isto? Por um carnaval hipocritamente arvorado de respeitável tradição? Oh!... Me poupem!

Felizmente que sou um apátrida. Nasci numa Terra que não me reconhece como filho e fui adoptado por uma nação que apenas o fez por fardo de consciência de potência colonizadora, a qual eu renego. Assim, livre de obrigações sentimentais de nacionalismos embutidos, constacto a evidente inutilidade dessas posturas balofamente pomposas. E tão vilmente minadoras dum saudável reconhecimento de qualquer identidade individual.

Sócrates, esse intemporal filósofo helénico, disse: «Eu sou um cidadão do mundo!» Não pode haver pensamento mais actual para o mundo que voluntária ou involuntariamente estamos construindo.

5 comentários:

Luís Freitas disse...

Muito verdade. Também o Barack Obama disse recentemente em Berlim: "Sou um cidadão do mundo". E eu gostei de ouvir.

Anónimo disse...

Palavras impactantes...
O que se dizer?
A sociedade estabeleu um padrão,
precisamos ter força para ir contra ele, ou vivermos presos...
A escolha cabe a cada um!

São disse...

Cada pessoa é única...e com isso tudo está dito, não?
Um abraço.

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag
O grande mal da humanidade consiste em acreditar que alguém pode ser dono duma verdade e que só essa verdade deverá vingar sobre as outras.
A diversidade e a contradição são formas de enriquecimento e de progresso. Exigem, no entanto, grandes capacidades de compreensão e de tolerância. E aqui temos outro dos grandes males: a necessidade de poder que alguns homens têm e que manifestam subjugando os outros.
Bem, e muito mais poderia ser dito, mas este post estupendo já tem praticamente tudo o que é essencial.
Saudações

. intemporal . disse...

ManDrag
Viver o futuro no presente ausente, roubado pela dor de estarmos existindo.
Viver o futuro, sempre.

Um bom fim de semana.

Abraço.te