segunda-feira, 11 de agosto de 2008

MALEFÍCIOS SOCIAIS DO CAFÉ

Inofensivo. Inofensivo?!

Nada inofensivo o gesto despreocupado que rotineiramente milhões de pessoas repetem nas grandes e superpovoadas urbes modernas, onde o sistema competitivo dum capitalismo desumanizado impele as nossas vidas. Gigantesco motor invisível e ininterrupto que controla as nossas existências indiferente às mais dignas necessidades da condição humana. Falo do cafézinho de que tantos milhares dependem, para suportar o seu dia-a-dia.

Pela manhã é um cafézinho para ajudar a despertar. A meio da manhã outro cafézinho como desculpa para um intervalo no trabalho rotineiro. Depois do almoço mais um cafézinho para ajudar a digestão. A meio da tarde ainda outro cafézinho para revitalizar e ajudar a cumprir o resto dum já longo e enfadonho dia do mesmo trabalho inglório. À saída do trabalho mais um cafézinho para ajudar com algumas energias extras o regresso a casa. Depois de jantar mais um cafézinho para de novo ajudar a digestão e ter um pretexto para sair um pouco e confraternizar com os amigos.
Não os vou contar, tão pouco porque muitos há que bebem mais, que esses cafés que referi, ao longo do dia.

Muitos há que substituem a primeira refeição do dia apenas por uma pequena xícara de café expresso. Ora como estimulante, o café tomado logo pela manhã, deixa a pessoa mais excitada e susceptível.
Na correria matinal de transportes, públicos ou particulares, o mau humor depressa se instala, divedo ao nervosismo de querer chegar a tempo, receando as represálias da entidade patronal por qualquer atraso. Qualquer contratempo assume proporções de infame boicote sabotador das nossas prioridades.
Mau humor esse que se prolonga pelo dia, porque o trabalho é enfadonho e só nos sujeitamos a ele por necessidade dum salário, não encontrando nele nehuma satisfação pessoal de afirmação.

O mundo pesa-nos sobre os ombros. Sentimo-nos derrotados, frustrados com as vidas monótonas e inglórias que somos forçados a aceitar, se queremos manter um perfil social considerado comum e ideal, mas que muitas vezes não é bem aquilo que no fundo mais gostariamos para nós. E para fugirmos a esse estado pré-depressivo recorremos ao café como estimulante para nos dar a falsa sensação de que até somos capazes de suportar a ignomínia de não sermos senhores de nós próprios, nem da nossa vontade. Depois refilamos, praguejamos, importunamos e confrontamo-nos com quem se cruze, nem que seja inadvertidamente, no nosso caminho.

Desde o primeiro cafézinho da manhã ficamos possuídos duma obsessão de alcançar...
Nunca o saberemos! Por certo o que quisermos alcançar, não será algo que tenha a ver com a tranquilidade em que gostariamos de poder desfrutar do prazer de estar vivo.
Esse cafézinho inofensivo excita-nos, põe-nos susceptíveis, vulneráveis, irritáveis, numa dissimulada agonia que se reflecte num comportamento pouco sociável, num meio urbano onde cada centímetro quadrado do nosso espaço é continuamente invadido por centenas de outros em igual estado de neurótica exaltação.

A acessibilidade generalizada a tudo, proporcionada por este nosso modelo social, permite o acesso a substâncias que outrora tinham a sua função ritualizada e circunscrita, por serem alteradoras dos estados de alma.
O café é o combustível que alimenta este estado demente em que vivemos o nosso quotidiano, ao proporcionar-nos o estado de estimulação que interessa aos empregadores para conseguir mais rendimento dos seus funcionários. As maquininhas de café que tão gentilmente as empresas e patrões, colocam estrategicamente nos locais de trabalho, não são um brinde assim tão benemérito.

9 comentários:

Arnaldo Reis Trindade disse...

Legal o texto, simplesmente adorei, sei que o café não é nada saúdavel não tomo café e espero que este texto faça com que outras pessoas parem de tomá-lo também.

Abraços amigo

Ray Gonçalves Mélo disse...

Oi Mandrag.
Belo texto reflexisivo!
Como terapeuta voce nos chama a atenção ao café , que inconscientemente usamos como um talismã. È isso muitas vezes como observaste de modo intuitivo é uma fuga e ao mesmo tempo um engano.
As vezes eu o uso como fuga , para dar uma parada naquilo que estou fazendo que muito as vezes me extressa .
Bela observação que só pode vir de um excelente terapeuta como voce.
Agradeço-te muito o carinho lá no blogue e as palavras lindas que dissestes.
Abraços sinceros.
Ray

Ray Gonçalves Mélo disse...

Mandrag, rs conserte a palavra reflexivo rs , e a vontade de comentar que faz isso.rs
Uma excelente fim de semana para ti.
Ray

São disse...

Viva Michael JacKson!!
Beijinhos.

ManDrag disse...

Salve! Arnaldo
Obrigado pela visita. Eu também espero que este texto sirva de alguma reflexão aos cafeinodependentes.
Seria um mundo bem mais tranquilo se não vivessemos rodeados de estimulantes tão anti-natura.
Abraço amigo.
Salutas!

ManDrag disse...

Salve! Ray
As tuas visitas são sempre um prazer. Obrigado pelos lisonjeiros cumprimentos.
Pois, o café não serve mesmo de relaxante. Para tal tenta antes uma chávena de chá de flor-de-laranjeira; esse sim é bem aromático e tranquilizador. Até é recomendável a sua ingestão em vésperas de ocasiões que antecipadamente sabemos serão stressantes.
Outra opção para fazer um intervalo entre tarefas stressantes é beberricar um copo de água fresca com uma pitada de açucar, enquanto se ouve uma música favorita, despreocupadamente estirada num confortável sofá. Só uns minutos e toda a vontade e energia voltam ao seu ponto ideal.
Abraços.
Salutas!

ManDrag disse...

Salve! São
Ãh?!...
Estou por fora, mas vou nessa. Viva Michael Jakson!
Beijinhos.
Salutas!

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag
Eu fui um desses seres que descreves. Não propriamente frustrado porque tinha um trabalho de que gostava mas desgastava-me a pressão diária a que estava sujeita.
Bebi muito café e fumei muito cigarro. Agora não. Estou no meu estádio tranquilo e com o meu q.b. a saborear uma nova fase da vida.

Abraço

Fidelis.pt disse...

Meus parabens pelo seu comentario muito criativo.Já faz 25 anos que me aconteceu um fato, eu tinha Corrido das 4 hs da manhã até as 07 hs,d manhã, creio eu de uns 35 a 40 km, estava bem, mas sentia-me esgotado, foi quando passei em uma casa de Campo, e pedi aquela senhora uma xicara de café,bem forte, Aquele Café me ressucitou, estava naquele dia, a fazer um retiro, (um acampamento), minha esposa e meu cunhado foi de carro.
Nestas situaçoes o Café é louvado.
E muito bem vindo.