quarta-feira, 13 de agosto de 2008

TEMPO

O Tempo é uma medida humana variável. E é em si um paradoxo.

Todos nós possuímos no cérebro um orgão que nos dá a percepção do tempo e regula os nossos ritmos. Podemos prescindir do relógio de pulso que o nosso organismo manterá o ritmo e sequência das suas funções. Mas embora a medição do tempo seja uma função orgânica, ela também é psicologicamente alterável, fazendo com que o tempo se expanda ou contráia. O ambiente é um dos factores que pode induzir essas alterações.

Na nossa sociedade tecnologicamente capaz de criar as condições que nos possibilitem uma mais longa esperança de vida, também tem em si os mecanismos que nos levam a acelerar o percurso dessa mais lata vivência. Acabando assim por encurtar aquilo que alonga. Eu explico.

Como já disse, hoje temos uma esperança de vida mais longa, nos países e sociedades tecnologicamente mais avançados. Contudo nessas sociedades impômo-nos ritmos de vida mais acelerados, pela ânsia da competitividade e pelo desejo de tudo querer alcançar. Tal, na crença de que no acumular de vivências reside a plena felicidade.
Perdeu-se o prazer do puro usufruto do momento de estar vivo. Apenas vivo. Tal carência altera a percepção do tempo, pelo que este parece nos fugir como água escorrendo entre os dedos.

Aí reside o paradoxo; ao alongarmos o tempo cronológico de vida, encurtamos o tempo psicológico de vivência. Isso porque nos sobrecarregamos de ansiedade. Queremos tudo; agora e já! E para o conseguirmos sujeitamo-nos a um correr atrás de ilusões, preenchendo todos os momentos de actividades que, maior parte das vezes, nos desagradam e enfastiam.
Faltou-nos a inteligência de perceber que com a expansão do tempo de vida poderiamos usufruir mais desta.

Aprendemos e habituamo-nos a sobre-estimular os sentidos, passando para níveis mais frenéticos de existência e acabamos por forçar todo o organismo a se regular por esses ritmos elevados. Trocámos a paz espiritual do desapego pela ânsia da posse material.
Tal não parece nada saudável, pois não?

1 comentário:

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag
Um excelente texto como todos os que escreves e que nos remete para a transitoriedade da vida e para um bem precioso que é o tempo.
O tempo não se deixa comprar nem corromper e quem mau uso faz dele bem depressa se arrepende.
Viver o tempo com tempo e amando as coisas simples é a grande sabedoria.
Abraço