A nossa maravilhosa civilização, repleta de prodígios tecnológicos e científicos, tem criado as condições propícias para uma maior esperança de vida das populações. Vivemos mais tempo, pois temos melhores condições de vida e melhores cuidados sanitários. Isso é excelente!
Esta é também, cada vez mais, uma civilização urbana. A maioria da população mundial aglomera-se em cidades que crescem desmesuradamente. Expandindo-se muito para além do racional e urbanamente aconselhável, indo muito além do humanamente suportável. Isso é pernicioso!
Os ritmos e padrões de vida urbanos são muito dificilmente ajustáveis aos tradicionais modelos familiares de existência. Contrariamente ao modelo anterior de sociedade baseada no modelo de núcleo familiar (modelo esse desenvolvido numa sociedade rural em extinção), agora construimos uma sociedade de indivíduos.
O que se constacta é que os perfis de autonomia desses indivíduos conflituam com as interdependências próprias duma vivência nuclear de família. Isso leva a brechas no tecido social, que se fragmenta ainda numa fase de transformação, ainda sem modelos definidos.
As famílias são mais pequenas e muitas vezes fragmentadas pelo número crescente de divórcios. Já não se encontram grupos familiares em que coabitem três gerações (avós, pais e netos). Muitas crianças nem chegam a conviver com os avós, que para elas são uns velhinhos instalados em instituições com nomes como «lar de idosos» ou «casas de repouso» (mas que se parecem mais com hospícios de lenta degradação humana).
Se antes os indivíduos séniores eram uma presença respeitada e valorizada na família, agora são tidos como empecilhos dos quais nos queremos desenvencilhar o mais rapidamente possível. O sénior tornou-se um apêndice a amputar da sociedade.
A imagem do idoso é um estigma que assusta uma sociedade em que a juventude é idolatrada como a fonte de beleza e longevidade; uma perfição vazia de conteúdo.
É necessário, para a sanidade do organismo social das nossas cidades, refazer o elo entre os séniores e os infantis. É essencial dar às crianças a oportunidade de recolherem directamente da fonte, o conhecimento e experiência de anos de vida dos nossos anciões. As instituições sociais encarregues da ocupação diária de idosos e crianças, não deveriam ser orgãos estanques, muito menos entre si. Deveriam ser pensados modos de interacção dos idosos com os mais pequeninos, duma maneira que fosse salutar e profícua para ambos.
Não sou especialista em nenhuma das áreas pelo que não vou avançar propostas não amadurecidas, mas desafio alguns de vós a fazê-lo.
Se nos estamos a tornar numa sociedade urbana, então as cidades deverão ser repensadas na sua planificação e reformuladas as já constituidas. E sendo a esperança de vida cada vez maior, então deveremos repensar o papel dos séniores na nova sociedade.
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2 comentários:
O corte entre membros da mesma família torna-se cada vez mais radical.
Já alguém reparou que o ser humano vive , desde o nascimento, em instituições e longe da família?!
A degradação dos relacionamentos está a atingir níveis insuportáveis e que trarão, sem dúvida, consequências bem graves.
Mas ...acima de tudo está a matriz consumista actual e que tudo padroniza, até os sentimentos.
Boa semana.
Salve! São
Pois é, o desenraizamento do indivíduo leva-o a uma solidão extrema. E globalizar não tem que ser massificar indistintamente.
Salutas!
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