domingo, 12 de abril de 2009

LENHA E DESERTO

Todos nos penitenciamos pelo contributo nocivo da poluição, causada pela nossa civilização, nas mudanças climáticas e desertificação do nosso habitat. Mas não somos apenas nós, os ricos civilizados e industrializados, que poluímos e degradamos o meio-ambiente.

As populações pobres e aquelas deserdadas dos seus vínculos ancestrais com a Mãe Natureza, que vivem entre dois mundos, sem a nenhum deles pertencer, acabam por dar um contributo altamente nocivo na desmatação de florestas e savanas. A aculturação a que esses povos de início foram forçados e mais tarde se permitiram na perspectiva de alcançar um eldorado que nunca lhes sorriu, deixou-os sem rumos próprios. Não souberam, nem quiseram, retornar às suas práticas ancestrais e perduram num limbo anacrónico altamente nocivo. Falaciosamente sustentados por incorrectas políticas paternalistas, eles acabam por adquirir hábitos desajustados ao meio em que vivem.

A necessidade que todos têm de lume para confeccionar as suas refeições leva a que os mais pobres procurem nas florestas circundantes a lenha que necessitam para produzirem o fogo indispensável. Tal prática revela-se incorrecta e ainda mais nociva quando associada ao desmatamento por parte de madeireiros sem escrúpulos.

Em África o desmatamento da escassa vegetação da savana, pelas populações para a produção de lenha, a um ritmo superior ao do crescimento natural, leva a um empobrecimento do solo, que se torna arenoso. Inicia-se assim um processo de desertificação progressivo que avança com o deslocamento das areias sopradas pelos ventos. 

Já as zonas de floresta tropical são um alvo preferencial dos madeireiros que buscam o lucro com o comércio de madeiras exóticas. As grandes distâncias e a escassez de agentes e medidas de fiscalização e controlo, facilitam a proliferação deste comércio criminoso.

Tal se verifica igualmente na América do Sul e na Ásia, onde o crescimento populacional se junta também aos comportamentos que acima referi. Aqui ainda temos que considerar o desmatamento para a conversão dos terrenos selvagens em zonas agrícolas, de maior ou menor escala, mas igualmente perniciosos para a vida selvagem e a preservação dos ecossistemas.

A comunidade de países desenvolvidos possui os meios para ajudar a eliminar estas práticas. A ciência e a indústria têm o conhecimento suficiente para produzir pequenos fogões alimentados por energia solar e os países ricos o dinheiro suficiente para os distribuir nas zonas mais inóspitas e carentes do globo. Afinal o desmatamento para obtenção de lenha para a culinária acontece nas regiões mais expostas ao sol. O dinheiro para isso?! Não foi fácil os ricos arranjarem milhares de milhões de dólares para salvar a sua rica economia nesta crise?

Quanto ao comércio de madeiras exóticas e desmatamento para alimentação de fábricas de produção de papel, a comunidade de países desenvolvidos também tem muito a dizer sobre isso, tanto em termos de regulamentação do comércio, como no apoio logístico aos países mais carenciados.

A Humanidade já alcançou um patamar de evolução tecnológica e económica capaz de proporcionar a todos um modo de vida salutar e sustentável, sem que uns tenham uma cozinha atafulhada de maquinaria supérflua e outros tenham de abater árvores centenárias e por vezes milenares, para sobreviverem.

5 comentários:

alex disse...

Mandrag, de Lokmar.
Lindo e triste texto que escreveu, como será o nosso planeta daqui há alguns séculos que herança deixaremos aos nossos filhos e netos. Um deserto com a maioria das especies extintas ? Sobreverá à catastrofe. Os glagiares derretem,o nivel da água sobe e aquece e torna-se também um deserto.As florestas tornam-se desertos .Tanta tecnologia para quê?

Arnaldo Reis Trindade disse...

Amigo, primeiramente agradeço-te pela visita em meu humilde recinto, quero além disso dizer-te que apesar de termos condições para viver bem e em harmonia tanto com os outros seres humanos quanto com todo o nosso meio, temos que levar em conta que o Capitalismo impede e sempre impedirá que tla façanha aconteça, pois o mesmo tem o intuíto de vender, e para que hajam as vendas, tem queter sempre pessoas muito pobres (mão-de-obra barata e pessoas que vão comprar os produtos de menor qualidade) e pessoas muito ricas ( as que iram comprar os melhore produtos das lojas mesmo que esses não tenham ultilidade nenhuma pra sí, apenas pelo fato de poderem dizer que estão comprando ) vejo aqui em Barreiras, as pessoas compram botas e casacos de couro, nã querem saber que animal sofreu para que eles tivessem essas roupas e as compram também pra dizer que compraram pois há mais de um ano aqui nunca ví a temperatura aqui baixar dos 20° Celsius.., belo texto.


Abraços

Serginho Tavares disse...

Infelizmente vivemos num mundo onde a barbárie ainda sobrevive por isto somos obrigados a lidar com tais crimes










[te amo]

SILÊNCIO CULPADO disse...

ManDrag

A ganância do lucro fácil e da acumulação de riquezas supérfluas, impedem uma distribuição de recursos mais justa e equitativa.
Todos dizemos isto mas quantos (mesmo os que dizem) pratica essa contenção no uso dos recursos que tanto apregoa?
Veja-se só nos consumos da água e da energia quantos desperdícios e gastos perdulários!...

E depois temos os poderes, os altos poderes, que se alimentam do sangue das suas vítimas porque para existirem os seus escandalosos privilégios têm que se garantir as assimetrias entre populações e países.E enquanto uma consciência colectiva não se formar e não engrossar o seu clamor por todo o mundo, as pegadas ecológicas vão marcando e destruindo, embora de forma desigual, até à destruição final para a qual não há redutos possíveis.

Abraço

São disse...

A mudança aproxima-se a passos largos.
Um saudoso abaraço.