sábado, 29 de março de 2008

CIDADES-MUNDOS

A ruralidade está em extinção.

Ao longo do século passado e aproveitando a expansão dos meios de comunicação, as populações rurais começaram a mudar-se para as grandes cidades, em busca de um modo de vida urbano e na esperança de uma oportunidade de melhorarem as suas condições de existência. Essa deslocação ainda perdura na actualidade e cada vez com mais impeto.

Toda essa gente obriga as cidades a transbordar além dos limites que lhe seriam favoráveis para fornecerem a todos um modo de vida digno. As cidades começam a expandir-se em bairros periféricos que crescem num modo anárquico. Muitos dos habitantes desses bairros desordenados não têm um verdadeiro enquadramento no tecido económico-laboral da cidade, recorrendo a todo o tipo de estratagemas alternativos e improvisados de conseguirem modos de subsistência. Frequentemente à revelia das administrações oficiais locais. É o ninho de desenvolvimento das assimetrias que mais caracterizam as enormes urbes do presente, arrastando consigo todo o tipo de mau-estar social.

Qualquer cidade tem um limite de expansão susceptível de permitir uma existência humanamente digna aos seus habitantes. Toda a concentração urbana que ultrapassar esses limites invalida qualquer capacidade de providenciar uma vida humanamente digna a quem lá habita. Além de se converter num imenso monstro difícil de gerir e administrar, pois exige mais recursos para a sua suscentabilidade que aqueles que é capaz de prover. É insensacto permitir a expansão desmesurada dos grandes aglomerados urbanos. No entanto é isso mesmo que acontece nos dias de hoje, em que vemos cada vez mais as grandes metrópoles espalhadas por todo mundo agigantarem-se em caóticas megalópolis.

Mas essa é uma ordem de pensamento ultrapassada; a megalomania e o gigantismo são cultos da era industrial. Agora é necessário uma nova filosofia de abordagem da urbanidade e cidadania.
O pensar pequeno e o pensar eficaz.
É necessário repensar o sentido de comunitarismo e de urbanidade. É muito mais eficaz a partilha de espaços, mesmo com a salvaguarda da individualidade/privacidade; a concentração de maior número de indivíduos em áreas mais pequenas, ou seja o crescimento em altura e a habitação-comunitária; o direito de todos poderem habitar e trabalhar na mesma área urbana (bairro), prescindindo assim do recurso a modos motorizados de deslocação. É de uma absurda insensatez que milhares, senão milhões, de indivíduos tenham de prescindir diariamente duas ou três horas da sua vida para se poderem deslocar entre a hatitação e o local de trabalho. Além dos graves problemas de saúde que isso acarreta a médio ou longo prazo, representa também enormes custos em infra-estruturas de mobilidade para as entidades administrativas locais ou centrais.

Vivemos no dealbar de uma nova era. São necessários novos modelos e novas filosofias. Mas acima de tudo é necessária a coragem de mudar.

Pensar pequeno, pensar eficaz.

quinta-feira, 27 de março de 2008

DEMOCRACIA

Por todo mundo proliferam os sistemas políticos democráticos. É a actual moda governativa das nações modernas, ou com pretensões a tal. Ter um regime democrático é quase uma imposição generalizada nos tempos que correm. Qualquer outro sistema governativo é olhado e apontado com desconfiança pelo resto do mundo.

Pessoalmente tenho muitas reservas quanto a um modelo governativo em que impera a vontade da maioria sobre a vontade das minorias. Como elemento dum grupo social considerado como minoria, sinto que alguns dos meus direitos estão sob constante ameça, quando não mesmo são ignorados e atropelados pelo preconceito e pela lei-vigente.

Mas neste conceito «Democracia» cabem muitos modelos de organização política; embora todos eles supostamente baseados no voto da maioria. Mesmo aqueles em que a própria definição de votante possa ser um pouco duvidosa. Não esqueçamos que no início do século passado as mulheres estavam excluidas do direito de voto nas democracias europeias e norte-americanas. E ainda nos dias de hoje nem todos os habitantes dum país democrático têm direito a voto: vejam o caso dos imigrantes nas modelares democracias europeias, que contribuem com o seu esforço de trabalho e os seus compromissos em impostos para o enriquecimento dos seus paises de acolhimento, mas que não têm direito a voto nas matérias que lhe dizem respeito.
Podem invocar que este último caso que refiro, o do voto dos imigrantes, possa pôr em causa a soberania e independência nacionais; caso actual do Kosovo. Mas aí poderemos perguntar: será a Democracia compatível com a definição e estatuto de Nação e Pátria? Afinal o que conta como definição de votante? O indivíduo-cidadão, ou a sua proveniência?

Os ideais de democratização mundial têm fomentado a propagação da globalização, com todas as suas vantagens e malefícios; uma vez que essa globalização tem sido feita dum modo massificador de aculturação e descaracterização cultural das minorias. E em nome da «Democracia» se tem assistido à imposição pela força da vontade de alguns poderosos sobre a autonomia de paises e povos idóneos.
Num mundo em que a politica é gerida por gabinetes de marketing eu não encontro nenhuma credibilidade no sistema de voto democrático das maiorias, pois que a expressão do voto dessas maiorias não é mais que o resultado da influência de campanhas meticulosamente orientadas de promoção propagandística. O discurso e debate político de ideias está sendo substituido pela lei do apelo sedutor da propaganda (leia-se publicidade). A democracia deixou de ser um debate de ideias para ser um desfile de cosmética.

Ah!... Ainda me ocorre o caso das democracias hereditárias. Sim! Vejam casos como a Argentina, o Paquistão, a India, em que famílias duma elite política se perpetuam em cargos de liderança de geração em geração, como se de pequenas monarquias sem título se tratassem.

Democracia. Não é este o meu ideal de governação. Mas enquanto não houver melhor opção...

sexta-feira, 21 de março de 2008

EDUCAÇÃO

Tão diversificado é este mundo...!
Tanto mais evidente essa diversidade quando nos introduzimos num avião e após umas horas de clausura desembocamos num ambiente diferente, com gentes diferentes e fazeres também diversos dos que nos habituámos no nosso quotidiano. Outros costumes, outros humores, outros linguajares, enfim tudo aquilo que define a cultura dum povo. E é a cultura que mantém um povo coeso e lhe proporciona a identificação mútua que permite o estabelecimento de regras básicas para uma existência comum. A perpetuação dessas práticas é a Tradição.
Nos dias de globalização que vivemos, em que facilmente estabelecemos contacto directo ou virtual com alguém em qualquer ponto do planeta, o confronto desses conhecimentos e procedimentos vai-se esbatendo num modelo que se propaga uniformemente como uma praga. É o fim das tradições, com todas as implicações que isso traz e que nem sempre são desejáveis.
Por esse mundo fora uma palavra se propaga: Democracia. Como se ela fosse um direito universal e quase um dever, a que todas as sociedades deve ser imposto. Mas ninguém explica a ninguém o que é democracia. Talvez porque ninguém o saiba ao certo. ...pronto, alguns poucos o saberão... admito.
Por esse mundo fora todos reivindicam direitos. Todos têm direitos; humanos, animais, vegetais, minerais, virtuais... Qualquer partícula de existência tem direitos. Mas estaremos todos conscientes do que implica todos terem direitos? NÃO!!! Não estamos todos conscientes disso! E porquê?! Por uma razão muito simples: Falta de Educação!
Este mundo carece de educação. Em todos os estratos e grupos sociais. É um mal deste mundo que pretende acelerar a sua existência, como se isso o levasse a alcançar os mais elevados padrões de vida. Este mundo cada vez mais urbano. Este mundo que esquece que a urbanidade sofre dum equilíbrio muito frágil e susceptível, pelo que os indivíduos que o compõem devem ter uma preparação cívica altamente esmerada.
Muito se fala em sociedades desenvolvidas, em vias de desenvolvimento, sub-desenvolvidas, terceiro-mundo (mas ninguém me soube ainda explicar quais são o primeiro e o segundo mundos), mas essas definições são sempre atribuidas em função do seu desenvolvimento tecnológico e da riqueza económica dessas sociedades. Bah!... Mais uma estupidez capitalista em que embarcam todos. Até mesmo os auto-denominados anti-capitalistas, mas que se empanzinam dos prazeres e comodidades do capitalismo. Nada mais estúpido que o pretender definir por comparação diferentes modos de viver usando uma mesma bitola. E além de estúpido é criminoso, pois pretende uniformizar aquilo que deveria ser diverso por natureza; a saber os diversos povos e as suas culturas.
Mas como a voracidade da modernidade parece imparável, rendamo-nos a ela. Admitamos que a sua propagação é inevitável. Então tomemos consciência que sendo essa modernidade baseada em princípios democráticos (sejam eles quais forem) é fundamental que aceitemos e aprendamos esses princípios, como condição primordial para depois podermos desfrutar dos direitos e previlégios dessa modernidade-democrática. E aquele que deve ser o primeiro e mais fundamental princípio é o da Educação. Sem ela não é possível uma urbanidade minimamente civilizada.
Para viver em grandes urbes (tal como a realidade presente nos mostra ser o percurso tendencial das sociedades contemporâneas) é fundamental o mais refinado sentido de civismo, só possível através duma exaustiva educação de cada indivíduo, desde a mais tenra idade. E que esse seja um processo contínuo, em que todo o tecido social se empenhe com abnegação e esforço. Doutro modo apenas continuaremos a assistir ao contínuo crescente do caos que mina a segurança e tranquilidade das vidas daqueles que têm que coabitar em verdadeiras e gigantescas colmeias humanas.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A Vida de Hoje

Despois de 10 anos de infância vividos em África (onde nasci, em Moçambique) e 40 anos em Portugal, onde me habituei aos modos de civilidade e confortos europeus, estou presentemente numa curta estadia no Rio de Janeiro (Brasil) para preparar a minha mudança para cá, com o intuito de viver aqui a segunda metade da minha vida. Por certo que com a minha idade (meio século) e a minha experiência, de uma vida disputada de olhos abertos e peito oferecido aos confrontos, não posso deixar de ter uma análise meticulosa e crítica de tudo aquilo que vou observando. Mais que não estou fazendo o usual roteiro turístico (elaborado para iludir o olhar distraído do turista), mas estou vivendo o quotidiano dos cariocas (assim se denominam os habitantes do Rio de Janeiro) que moram na periferia e se levantam de madrugada para ir ganhar o seu sustento num calor tropical. Um mundo muito diferente dos confortos duma europa esforçada em se auto-regulamentar até à exaustão quase paranóica; uma europa asséptica e desumanizada, quando comparada com o jeito desleixado e desregrado destas gentes que vivem ritmados pelo frenesim dos sentimentos e emoções mais humanamente básicos.

Ocorre-me então a comparação entre as diferentes assimetrias e comportamentos sociais dos vários povos e países espalhados por todos os continentes. E se uns pecam dum modo, outros pecam de outro; afinal todos pecamos (não estou a usar o termo "pecado" num sentido moralista-religioso). Não são os povos e sociedades com modelos de vida económica e tecnologicamente mais elaborados que vivem dum modo mais correcto que os outros. Essas sociedades auto-denominam-se de desenvolvidas, olhando para os outros modelos como sub-desenvolvidos, ou em vias de desenvolvimento. Isso criou um estigma que levou os outros povos a um abandono do desenvolvimento natural dos seus modelos próprios, instigados pela falsa abastança do modelo ocidental de civilização. Tal inversão (mais do que conversão) de modelos acarreta verdadeiras aberrações existênciais, que apenas induzem a uma vivência insalubre e desumana.

Poderia aqui politizar a questão e falar nos interesses dos governantes e dos grandes agentes económicos mundiais, mas isso seria desviar-me do meu propósito sempre primordial que é a responsabilização do indivíduo (cada um de nós) pelas suas opções e atitudes. Esses tais governantes e grandes agentes económicos não deixam de ser indivíduos em si; poderão ter mais responsabilidades na definição dos propósitos gerais, mas isso não os isola como únicos agentes nessa inversão de valores culturais dos seus próprios povos. Os povos mudam os seus comportamentos porque os indivíduos que os compõem querem essas mudanças. Induzidos pelos mais poderosos (os chamados tubarões da economia mundial)? Sim... Talvez... Mas, então, e porquê? Porque se deixam induzir?
Educação. Por falta de educação, de formação pessoal.
Cada vez mais as pessoas abdicam da sua auto-formação. Desde a mais tenra idade não somos ensinados a pensar por nós. Somos modelados a aceitar o que a norma e a regra nos impõem. E a grande maioria aceita isso por comodismo e/ou inépcia. E isso é o caminho aberto a estes mundos desumanizados em que se tornaram as nossas grandes urbes; estes descomunais antros de angústia e frustração.

É tempo de cada um de nós chamar a si a responsabilidade de assumir o seu papel neste mundo. É tempo de cada um de nós deixar de delegar a sua responsabilidade perante a vida, nas administrações e nos governos.
É tempo de cada um assumir o seu papel de Ser Humano.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Etapas

Salve!

A Vida tem etapas, que correspondem às nossas fazes de crescimento interno. Essas etapas são mais claras e bem entendidas por aqueles que vivem de olhos abertos e encarando a Vida de frente, sem fugir aos desafios.
Cada nova etapa da Vida é como um renascimento. Como se tivessemos de reaprender quase tudo. E tão mais rico será o proveito (o aprendizado) quanto mais desafiador for o lance.
Muitos se amedrontam perante os desafios, deixando-se ficar acomodados atrás de rotinas monótonas e atrofiantes, impedindo assim o seu desenvolvimento como seres humanos.
Para crescer interiormente cada um tem de ter uma alma de Guerreiro de Luz. Os que não são capazes de lutar perante os obstáculos, são apenas formas vazias poluindo o mundo.

Salutas!