Todos nascemos para morrer!
Inevitável, a morte. A doce morte, dádiva da vida, que assim nos liberta dos incontáveis suplícios da imortalidade.
Uma vida sem morte seria uma existência de Sísifo.
A morte é o grande tabu, desta sociedade de valores distorcidos e anti-natura. Um tabu que motiva logros e sonegações aberrantes; como a de esconder a realidade da morte às crianças.
A morte é vista como uma perda.
Mas porque não a ver como um ganho? Porque ela é entendida como usurpadora de tudo aquilo a que a nossa avidez de posse (ou ganância, como lhe queiram chamar) nos levou a acumular e a apegarmo-nos doentiamente.
"Nada podes levar contigo." diz-nos o Barqueiro da Morte. E isso é o desaire maior de quem sempre se afirmou através do que adquiriu e acumulou ao longo duma vida desperdiçada numa afirmação através dos bens acumulados. Uma verdadeira prova de mesquinhez e imaturidade anímica.
Na nossa sociedade perdeu-se o sentido da morte. A morte é algo de que nos queremos livrar tão depressa quanto nos livremos dos nossos mortos.
"Morreu? Enterra-se e a vida segue em frente." Falso! Rotundamente falso!
Esse desrespeito pelos nossos mortos e a hipocondria com que nos apressamos a livrar-nos deles revela a imaturidade perante a Vida e a Existência em geral.
Também não é com carpideiras e funerais obscena e extravagantemente luxuosos, onde (muitas vezes) hipocritamente todos se lamuriam da perda do defunto, que se dignifica a morte e o seu valor.
A morte é a libertação e afirma o cumprimento de uma etapa, ao dar-lhe fim. Por isso a morte é uma ocasião de natural e serena satisfação pelo reconhecimento da boa conclusão duma tarefa designada.