Venho apenas deixar aqui a indicação do link duma aula («A História das Coisas») sobre consumismo. Aconselho vivamente. Escuso-me de comentários.
http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&hl=en
terça-feira, 29 de abril de 2008
terça-feira, 22 de abril de 2008
SINOFOBIA
Vivemos uma era única. O mundo que conhecemos hoje poderá já não ser o mesmo amanhã. As alterações e mudanças acontecem em contínuo e por toda a parte, tomando as mais variadas formas.
Outrora era possível prever com tranquilidade a evolução dos acontecimentos. O mundo era previsível nos seus formatos tradicionais e estruturas rígidas. Era fácil catalogar e compartimentar dum modo dito científico. E assim até as nações e sociedades foram estratificadas, tomando como padrão o modelo referencial científico-tecnológico da civilização ocidental (europeia/norte-americana). Detentores de tecnologias que nos permitem viver com maior conforto e comodidade (materiais!), depressa acreditámos ser esse o derradeiro sentido da evolução Humana. Isso dava-nos um estatuto de superioridade perante os outros povos.
Então começou a falar-se nos países do Terceiro-Mundo (nunca cheguei a perceber porque não ouvia falar nos do Segundo-Mundo; ou será que não existe essa designação?! Talvez seja somente ingéua ignorância minha), como sociedades incultas, carentes de progresso. As Nações tecnologicamente mais avançadas depressa se tornaram Senhoras do Mundo, enquanto as sua irmãs do Terceiro-Mundo foram relegadas para o papel de pobres indigentes mendigando migalhas aos pés da mesa dos Grandes.
Que visão mais tacanha da condição humana!
Mas ao invés de entregarem as suas sobras (migalhas) aos seus irmãos mais desfavorecidos, as nações económica e tecnologicamente mais desenvolvidas passaram a tirar vantagem da sua supremacia para retirarem ainda mais benfícios das desigualdades, explorando despudoradamente a dependência, por debilidade, económica dessas nações, que afirmavam pretender auxiliar no seu desenvolvimento.
Agora os centros mundiais de acelerado crescimento económico deslocam-se geograficamente. Os países dos continentes europeu e norte-americano, debatem-se para não perderem a sua liderança face ao acelerado desenvolvimento económico de nações como a China, a Índia, o Brasil, entre outras. O Brasil já deixou o estatuto de nação apenas devedora para passar a ser também nação credora. A China é credora dos USA. Veja-se o recente pânico nas economias e mercados abastecedores mundias causado pelo aumento súbito do preço do arroz na bolsa tailandesa.
Na liderança do aceleramento económico está a China. Com o seu novo modelo, que os dirigentes comunistas apelidam de experimental - de início restrito a zonas localizadas mas que agora se vai implementando por outras regiões - a China torna-se o paraíso do investimento e do sucesso. Depois de décadas de imobilismo e decrepitude, a China é o espelho do futuro desta sociedade consumista que a civilização ocidental impôs ao mundo. Se os seus mais de 1,3 biliões de habitantes usufruissem (e democraticamente têm todo o direito a tal) dos confortos e comodidades dos povos dos países ditos ocidentais todo o planeta entraria em colapso por esgotamento de recursos.
E como aqueles que enriquecem são invariavelmente alvos da inveja alheia, a China está hoje na mira de todas as campanhas de difamação e aviltamento. Ela é a corporificação do velho mito-presságio do «despertar do Dragão Asiático». Ela é o alvo a abater por todos os grupos de interesses político-económicos do ocidente, tão experientes nas artes da difamação para a posterior recolha necrófaga de proveitos. E toda essa propaganda acaba por se disseminar sublinearmente nas populações, acabando por pesar nos seus juizos de valor.
É a isso que eu chamo de Sinofobia («sino»: aquilo que se refere a chinês).
Outrora era possível prever com tranquilidade a evolução dos acontecimentos. O mundo era previsível nos seus formatos tradicionais e estruturas rígidas. Era fácil catalogar e compartimentar dum modo dito científico. E assim até as nações e sociedades foram estratificadas, tomando como padrão o modelo referencial científico-tecnológico da civilização ocidental (europeia/norte-americana). Detentores de tecnologias que nos permitem viver com maior conforto e comodidade (materiais!), depressa acreditámos ser esse o derradeiro sentido da evolução Humana. Isso dava-nos um estatuto de superioridade perante os outros povos.
Então começou a falar-se nos países do Terceiro-Mundo (nunca cheguei a perceber porque não ouvia falar nos do Segundo-Mundo; ou será que não existe essa designação?! Talvez seja somente ingéua ignorância minha), como sociedades incultas, carentes de progresso. As Nações tecnologicamente mais avançadas depressa se tornaram Senhoras do Mundo, enquanto as sua irmãs do Terceiro-Mundo foram relegadas para o papel de pobres indigentes mendigando migalhas aos pés da mesa dos Grandes.
Que visão mais tacanha da condição humana!
Mas ao invés de entregarem as suas sobras (migalhas) aos seus irmãos mais desfavorecidos, as nações económica e tecnologicamente mais desenvolvidas passaram a tirar vantagem da sua supremacia para retirarem ainda mais benfícios das desigualdades, explorando despudoradamente a dependência, por debilidade, económica dessas nações, que afirmavam pretender auxiliar no seu desenvolvimento.
Agora os centros mundiais de acelerado crescimento económico deslocam-se geograficamente. Os países dos continentes europeu e norte-americano, debatem-se para não perderem a sua liderança face ao acelerado desenvolvimento económico de nações como a China, a Índia, o Brasil, entre outras. O Brasil já deixou o estatuto de nação apenas devedora para passar a ser também nação credora. A China é credora dos USA. Veja-se o recente pânico nas economias e mercados abastecedores mundias causado pelo aumento súbito do preço do arroz na bolsa tailandesa.
Na liderança do aceleramento económico está a China. Com o seu novo modelo, que os dirigentes comunistas apelidam de experimental - de início restrito a zonas localizadas mas que agora se vai implementando por outras regiões - a China torna-se o paraíso do investimento e do sucesso. Depois de décadas de imobilismo e decrepitude, a China é o espelho do futuro desta sociedade consumista que a civilização ocidental impôs ao mundo. Se os seus mais de 1,3 biliões de habitantes usufruissem (e democraticamente têm todo o direito a tal) dos confortos e comodidades dos povos dos países ditos ocidentais todo o planeta entraria em colapso por esgotamento de recursos.
E como aqueles que enriquecem são invariavelmente alvos da inveja alheia, a China está hoje na mira de todas as campanhas de difamação e aviltamento. Ela é a corporificação do velho mito-presságio do «despertar do Dragão Asiático». Ela é o alvo a abater por todos os grupos de interesses político-económicos do ocidente, tão experientes nas artes da difamação para a posterior recolha necrófaga de proveitos. E toda essa propaganda acaba por se disseminar sublinearmente nas populações, acabando por pesar nos seus juizos de valor.
É a isso que eu chamo de Sinofobia («sino»: aquilo que se refere a chinês).
segunda-feira, 21 de abril de 2008
EMAIL MISSIONÁRIO
A internet abriu o mundo a toda gente. Deu voz a todos. E direito a todos terem opinião sobre tudo, com ou sem conhecimento de causa. A democratização da basófia e a ascenção da imbecilidade; muitas vezes duma ignorância malévola e perigosa.
Com a internet chegou o email e toda gente descobriu que afinal podia corresponder-se com todo mundo. E difundir livremente as suas ideias, muitas das vezes toscas e desinformadas.
Mas ao invés do que outrora se fazia com o correio, dar notícias pessoais, agora este novo correio-electrónico serve para despejar sobre os outros todo o tipo de informação e desinformação; tanto boa como indesejável. Criou-se então o correio em cadeia. E todos se converteram em modernos missionários de causas por si próprios eleitas como nobres e humanitárias.
E daí temos as nossas inbox atafulhadas de circulares e alertas que não pedimos, não desejamos e de modo nenhum queríamos receber. Não é por ter o meu espaço íntimo invadido por imagens de crianças subnutridas em agonia mortal (algumas perversamente legendadas por orações de agradecimento pelos alimentos que temos nos nossos quotidianos abastados da nossa civilização ocidental) que vou acabar com a fome no mundo. Não é por me impressionar com os horrores das guerras, testemunhados com imagens pervertidamente voyeuristas de mutilaçoes e cadáveres em decomposição abandonados nos campos de combate, que todas essas guerras estúpidas irão terminar. Não é por me enojar com as imagens de animais agonizantes em supostos laboratórios de pesquisas de produtos farmacológicos ou cosméticos, que irei saber fazer melhor escolhas no supermercado (pois essas imagens só referem uma marca de produtos entre inúmeras). E mais exemplos haveriam...
Este novo missionarismo electrónico é uma praga perniciosa, porque destituida de ética. Todos se arvoram o estatuto de profetas da Justiça e se arrogam o soberano direito de impingir indescriminadamente aquilo que entendem ser a mais Sublime Verdade. Como se assim pusessem termo a todos os males do mundo. No momento de fazerem click sobre a palavra «enviar» sentem-se os Salvadores do Mundo.
Vamos parar um pouco e reflectir. Será que o receptor das minhas mensagens quer mesmo ver-se envolvido nas questões que elas abordam? Será que o receptor das minhas mensagens irá ter delas a leitura que eu pretendo e agirá do modo mais conveniente? E acima de tudo... Será que o receptor das minhas mensagens estará emocionalmente preparado para as receber???!
Só porque determinada situação é pungente e premente para nós, isso não quer dizer que os outros estejam preparados para fazerem os mesmos juizos que nós.
E ainda há a cínica expressão, sublinarmente acusatória, que usualmente remata esses textos, evangélicos no seu pseudo-missionarismo: «Eu fiz a minha parte!»
Mas que coisa mais perversa. Não é só duma insolência ordinária como de uma arrogância escatológica.
Com a internet chegou o email e toda gente descobriu que afinal podia corresponder-se com todo mundo. E difundir livremente as suas ideias, muitas das vezes toscas e desinformadas.
Mas ao invés do que outrora se fazia com o correio, dar notícias pessoais, agora este novo correio-electrónico serve para despejar sobre os outros todo o tipo de informação e desinformação; tanto boa como indesejável. Criou-se então o correio em cadeia. E todos se converteram em modernos missionários de causas por si próprios eleitas como nobres e humanitárias.
E daí temos as nossas inbox atafulhadas de circulares e alertas que não pedimos, não desejamos e de modo nenhum queríamos receber. Não é por ter o meu espaço íntimo invadido por imagens de crianças subnutridas em agonia mortal (algumas perversamente legendadas por orações de agradecimento pelos alimentos que temos nos nossos quotidianos abastados da nossa civilização ocidental) que vou acabar com a fome no mundo. Não é por me impressionar com os horrores das guerras, testemunhados com imagens pervertidamente voyeuristas de mutilaçoes e cadáveres em decomposição abandonados nos campos de combate, que todas essas guerras estúpidas irão terminar. Não é por me enojar com as imagens de animais agonizantes em supostos laboratórios de pesquisas de produtos farmacológicos ou cosméticos, que irei saber fazer melhor escolhas no supermercado (pois essas imagens só referem uma marca de produtos entre inúmeras). E mais exemplos haveriam...
Este novo missionarismo electrónico é uma praga perniciosa, porque destituida de ética. Todos se arvoram o estatuto de profetas da Justiça e se arrogam o soberano direito de impingir indescriminadamente aquilo que entendem ser a mais Sublime Verdade. Como se assim pusessem termo a todos os males do mundo. No momento de fazerem click sobre a palavra «enviar» sentem-se os Salvadores do Mundo.
Vamos parar um pouco e reflectir. Será que o receptor das minhas mensagens quer mesmo ver-se envolvido nas questões que elas abordam? Será que o receptor das minhas mensagens irá ter delas a leitura que eu pretendo e agirá do modo mais conveniente? E acima de tudo... Será que o receptor das minhas mensagens estará emocionalmente preparado para as receber???!
Só porque determinada situação é pungente e premente para nós, isso não quer dizer que os outros estejam preparados para fazerem os mesmos juizos que nós.
E ainda há a cínica expressão, sublinarmente acusatória, que usualmente remata esses textos, evangélicos no seu pseudo-missionarismo: «Eu fiz a minha parte!»
Mas que coisa mais perversa. Não é só duma insolência ordinária como de uma arrogância escatológica.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
HERANÇA EUROPEIA: USA
É fácil. É muito fácil ser-se anti-americano nos dias que correm. É muito fácil chamar idióta a Bush e estúpidos aos americanos. É até sintoma de aceitação socio-grupal ser-se anti-americano. Todos gostam de invectivar os americanos e as suas atitudes; tanto como povo, como a nível governamental. É fácil projectar nos poderosos a expiação de todos os nossos males.
Todos se esquecem do espelho quando se trata de apontar erros e defeitos aos outros. É com impressionante facilidade que ostentamos orgulhosamente a nossa cultura e os seus grandes feitos históricos, mas com idêntica facilidade nos distanciamos das repercussões desses feitos. Todos chafurdamos nesta cultura ocidental de imediatismo consumista e alienação economicista, mas logo nos apressamos a apontar o dedo aos USA quando se trata de pagar a factura para a manutenção deste estilo de existência (é deliberadamente que não lhe chamo estilo de vida). Os americanos é que têm sempre a culpa de todos os males. É com prontidão que os acusamos de com o seu estilo autista e endemoniado, propagarem e causarem todos os males do mundo.
Foram eles que invadiram desonestamente o Iraque e que trouxeram todo o infortúnio a esse país; como se o ocidente não estivesse também tirando vantagens do acesso facilitado aos poços petrolíferos da região.
São eles que propagam por todo planeta um estilo de consumo desregrado e irresponsável; como se esse estilo não fosse uma derivação da cultura que os seus antepassados lhes legaram.
E quem foram os antepassados dos americanos e da sua actual cultura?... Os colonizadores europeus, pois então! Os europeus! Os europeus!!!
A chamada cultura americana não é mais que a caldeação de todos os costumes e tradições que os egrégios colonos e emigrantes europeus para lá levaram. E não me venham com essa metáfora esfarrapada de que o Mayflower ia cheio de prostitutas e criminosos. Ao menos respeitem a memória dos milhões de emigrantes que ajudaram a moldar tão notável nação.
Todos gostam de afirmar a Democracia como o modelo político ideal, indicando a Europa como berço de tal sistema. Ora na antiga Helénica Atenas a Democracia era um sistema apenas para uma parte da sociedade (os homens livres atenienses) governar todo o restante corpo social. Durante a história moderna a tentativa de revitalizar tal sistema (a Revolução Francesa, com os seus ideais de Igualdade, Fraternidade e Liberdade) não passou dum imenso banho de sangue e vingança.
Ora foi nos USA que nasceu a Moderna Democracia, nos moldes que depois inspirariam as actuais democracias, disseminadas um pouco por todo mundo e vistas como o modelo governativo por excelência.
Eu não simpatizo com George W. Bush. Apelidar de néscia, é o mínimo que se pode dizer da sua governação. Mas uma coisa é um governante em trânsito histórico e outra uma Nação por ele governada.
Assim como procuro distinguir os bons exemplos de cidadania e solidariedade do povo americano, de alguns maus costumes do seu quotidiano.
Todos se esquecem do espelho quando se trata de apontar erros e defeitos aos outros. É com impressionante facilidade que ostentamos orgulhosamente a nossa cultura e os seus grandes feitos históricos, mas com idêntica facilidade nos distanciamos das repercussões desses feitos. Todos chafurdamos nesta cultura ocidental de imediatismo consumista e alienação economicista, mas logo nos apressamos a apontar o dedo aos USA quando se trata de pagar a factura para a manutenção deste estilo de existência (é deliberadamente que não lhe chamo estilo de vida). Os americanos é que têm sempre a culpa de todos os males. É com prontidão que os acusamos de com o seu estilo autista e endemoniado, propagarem e causarem todos os males do mundo.
Foram eles que invadiram desonestamente o Iraque e que trouxeram todo o infortúnio a esse país; como se o ocidente não estivesse também tirando vantagens do acesso facilitado aos poços petrolíferos da região.
São eles que propagam por todo planeta um estilo de consumo desregrado e irresponsável; como se esse estilo não fosse uma derivação da cultura que os seus antepassados lhes legaram.
E quem foram os antepassados dos americanos e da sua actual cultura?... Os colonizadores europeus, pois então! Os europeus! Os europeus!!!
A chamada cultura americana não é mais que a caldeação de todos os costumes e tradições que os egrégios colonos e emigrantes europeus para lá levaram. E não me venham com essa metáfora esfarrapada de que o Mayflower ia cheio de prostitutas e criminosos. Ao menos respeitem a memória dos milhões de emigrantes que ajudaram a moldar tão notável nação.
Todos gostam de afirmar a Democracia como o modelo político ideal, indicando a Europa como berço de tal sistema. Ora na antiga Helénica Atenas a Democracia era um sistema apenas para uma parte da sociedade (os homens livres atenienses) governar todo o restante corpo social. Durante a história moderna a tentativa de revitalizar tal sistema (a Revolução Francesa, com os seus ideais de Igualdade, Fraternidade e Liberdade) não passou dum imenso banho de sangue e vingança.
Ora foi nos USA que nasceu a Moderna Democracia, nos moldes que depois inspirariam as actuais democracias, disseminadas um pouco por todo mundo e vistas como o modelo governativo por excelência.
Eu não simpatizo com George W. Bush. Apelidar de néscia, é o mínimo que se pode dizer da sua governação. Mas uma coisa é um governante em trânsito histórico e outra uma Nação por ele governada.
Assim como procuro distinguir os bons exemplos de cidadania e solidariedade do povo americano, de alguns maus costumes do seu quotidiano.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
VULNERABILIDADE INFANTIL E CIRCO
Tal como qualquer outro grande império centralizador e opressor, a União das Républicas Socialistas Soviéticas ruiu minada pelos enormes erros da sua cegueira dogmática e, como tal, arrogante. Acaba por acontecer o mesmo a todos aqueles que se arrogam senhores da solução final. Isso poderia levar a falarmos sobre a contínua mutabilidade do Universo; mas tal ficará talvez para outra ocasião.
E ao terminar, tudo que fora forçosa e artificialmente mantido coeso, deixa atrás de si dispersão e caos. Assim acabam os impérios. A URSS não foi excepção. Daquilo que anteriormente havia sido o orgulhoso Bloco Soviético emergiram uma série de nações orfãs, que se estendem desde a Europa Central até à Ásia Oriental. Deixadas no desamparo pela fuga duma administração ruinosa, essas nações tiveram que encontrar novos rumos.
A Mongólia é uma dessas nações orfãs. Nação orgulhosa dum passado grandioso, teve de reencontrar um rumo próprio, entalada entre dois gigantes. Mas sem as ousadias do passado, impossíveis num mundo movido agora por outros interesses e desígnios, a Mongólia teve de se reerguer da indigência deixada pelas insensatas políticas económicas do regime comunista.
Urgia recuperar o tempo perdido, de modo a conseguir um lugar entre os países de sociedades modernas de perfis dinâmicos. Mas tudo tem um preço e, esse preço recai sempre sobre as existências dos mais fracos e desprotegidos. As classes mais baixas da sociedade são as primeiras a sofrerem os rigores duma economia nacional em crise. E dentro dessas classes os mais vulneráveis são as crianças.
Desamparados à sua própria sorte muitas das crianças do principal aglomerado urbano da Mongólia, a sua capital Ulan Bator, abandonam os seios destroçados das suas famílias e deambulam pelas ruas da cidade, em busca dumas migalhas, ou mesmo recorrendo a todos os estratagemas para alcançarem os modos de sustentarem os vícios que tais sortes sempre promovem: o recurso a estupefacientes, nomeadamente o mais comum entre os mais juvenis; cheirar cola.
Mas o clima mongol é implacável. E se os Verões podem ser muito quentes já os Invernos são atrozmente gelados. E em busca de refúgio contra os seus perseguidores, que os sujeitam às mais crueis sevícias e abusos, as crianças de Ulan Bator começaram a se refugiar nos esgotos da cidade, onde encontravam abrigo e algum calor junto às condutas de vapor para os aquecimentos da cidade. Aí se reunem em pequenas comunidades organizadas do jeito cândido e ao mesmo tempo cruel próprio da infância.
E foi esse universo surreal das crianças dos esgotos de Ulan Bator que alguns membros do Cirque du Soleil foram encontrar numa visita à Mongólia. Não ficaram indiferentes; as suas consciências não os permitia. Então em conjunto com entidades oficiais locais promoveram um programa de recuperação de crianças abandonadas, tendo por base a motivação dessas crianças para as artes circenses. Não que essas artes fossem de todo estranhas na Mongólia, que já no passado possuiu um dos melhores circos do mundo.
As crianças aderiram ao envolvimento numa nova comunidade, em que os adultos passaram de ameaça a amigos. Deixaram-se aliciar pelo encanto das artes circenses, que lhes restituiu uma auto-imagem de dignidade e consequentemente um notável aumento de auto-estima. E esse trabalho abriu-lhes o interesse para se dedicarem à aprendizagem de outros ofícios, que lhes proporcionarão qualificações para uma mais fácil carreira no mundo laboral.
Alguns dos artistas do Cirque du Soleil são de origem mongol.
E ao terminar, tudo que fora forçosa e artificialmente mantido coeso, deixa atrás de si dispersão e caos. Assim acabam os impérios. A URSS não foi excepção. Daquilo que anteriormente havia sido o orgulhoso Bloco Soviético emergiram uma série de nações orfãs, que se estendem desde a Europa Central até à Ásia Oriental. Deixadas no desamparo pela fuga duma administração ruinosa, essas nações tiveram que encontrar novos rumos.
A Mongólia é uma dessas nações orfãs. Nação orgulhosa dum passado grandioso, teve de reencontrar um rumo próprio, entalada entre dois gigantes. Mas sem as ousadias do passado, impossíveis num mundo movido agora por outros interesses e desígnios, a Mongólia teve de se reerguer da indigência deixada pelas insensatas políticas económicas do regime comunista.
Urgia recuperar o tempo perdido, de modo a conseguir um lugar entre os países de sociedades modernas de perfis dinâmicos. Mas tudo tem um preço e, esse preço recai sempre sobre as existências dos mais fracos e desprotegidos. As classes mais baixas da sociedade são as primeiras a sofrerem os rigores duma economia nacional em crise. E dentro dessas classes os mais vulneráveis são as crianças.
Desamparados à sua própria sorte muitas das crianças do principal aglomerado urbano da Mongólia, a sua capital Ulan Bator, abandonam os seios destroçados das suas famílias e deambulam pelas ruas da cidade, em busca dumas migalhas, ou mesmo recorrendo a todos os estratagemas para alcançarem os modos de sustentarem os vícios que tais sortes sempre promovem: o recurso a estupefacientes, nomeadamente o mais comum entre os mais juvenis; cheirar cola.
Mas o clima mongol é implacável. E se os Verões podem ser muito quentes já os Invernos são atrozmente gelados. E em busca de refúgio contra os seus perseguidores, que os sujeitam às mais crueis sevícias e abusos, as crianças de Ulan Bator começaram a se refugiar nos esgotos da cidade, onde encontravam abrigo e algum calor junto às condutas de vapor para os aquecimentos da cidade. Aí se reunem em pequenas comunidades organizadas do jeito cândido e ao mesmo tempo cruel próprio da infância.
E foi esse universo surreal das crianças dos esgotos de Ulan Bator que alguns membros do Cirque du Soleil foram encontrar numa visita à Mongólia. Não ficaram indiferentes; as suas consciências não os permitia. Então em conjunto com entidades oficiais locais promoveram um programa de recuperação de crianças abandonadas, tendo por base a motivação dessas crianças para as artes circenses. Não que essas artes fossem de todo estranhas na Mongólia, que já no passado possuiu um dos melhores circos do mundo.
As crianças aderiram ao envolvimento numa nova comunidade, em que os adultos passaram de ameaça a amigos. Deixaram-se aliciar pelo encanto das artes circenses, que lhes restituiu uma auto-imagem de dignidade e consequentemente um notável aumento de auto-estima. E esse trabalho abriu-lhes o interesse para se dedicarem à aprendizagem de outros ofícios, que lhes proporcionarão qualificações para uma mais fácil carreira no mundo laboral.
Alguns dos artistas do Cirque du Soleil são de origem mongol.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
PROPAGANDA E TIBETE
Estamos num Ano Olímpico. Circunstância que supostamente deveria ser de festa para os atletas a nível mundial e de uma procura de harmonia a nivel dos povos do mundo. Ou, pelo menos, seria importante que assim fosse. Mas na desbunda em que se está convertendo o entendimento do que é a liberdade e a democracia, o respeito pela importância do ritual, como elemento de coesão das comunidades, está cada vez mais ameaçado pelos excessos de procura de protagonismo daqueles que entendem que a justeza dos seus ideais justifica todo o tipo de comportamentos abusivos.
Não sou ingénuo, tal como a diplomacia nunca o foi.
Criados como um período de tréguas entre as contínuas guerras promovidas pelas diversas cidades-estado que compunham a antiga civilização Helénica, os Jogos Olímpicos são um símbolo de Paz e Harmonia. Mas mesmo nesses vetustos tempos os Jogos eram usados politicamente, contudo o seu ritualismo simbólico era venerado, então.
Já nos tempos em que vivemos se perdeu o entendimento da importância dos rituais. A proliferação do ateismo e do laicismo tem contribuido para essa perda de percepção do valor do ritual. Não me proponho aqui explicar e revitalizar a importância dos cerimoniais na funcionalidade da comunidade humana, apenas constacto o facto. Até os mais cultos e intelectuais, cegos pelo seu empirismo, têm descaracterizado os ritos cerimoniais e a importância do seu simbolismo.
É lastimável o triste espectáculo que denominados activistas por um Tibete livre têm protagonizado nas actividades ritualisticas referentes à Chama Olímpica.
Não menosprezo a veemência sempre presente da discussão sobre a ocupação abusiva do Tibete por parte da China.
Não minimizo a necessidade de pressionar os líderes chineses a reverem a sua decisão sobre esta ocupação de expansionismo imperialista.
Mas acredito que há momentos e circunstâncias para tudo.
E, cada macaco no seu galho, cada coisa no seu lugar.
Entendo como abusivo o aproveitamento ignóbil a que têm recorrido esses acitvistas, que apelam pelo respeito dos direitos dos tibetanos atropelando os direitos daqueles que esperam alegria e festividade num evento que deveria lembrar a todos a necessidade dum convívio harmonioso. E o mesmo penso a respeito de todos aqueles que se aproveitam de outros momentos mais mediatizados para os desvirtuarem a propósito duma propaganda que entendem estar acima de qualquer outra dignidade.
Lamentavelmente as suas causas depois ficam esquecidas o resto do tempo, quando já não há ocasiões solenes para aviltar.
Gostaria ainda de lembrar que o drama dos tibetanos até nem é dos mais pungentes no mundo de hoje. E não é só a violação dos direitos humanos na China que deveria ser lembrada. O folclore grosseiro com que os activistas pretendem denegrir os desfiles da Chama Olímpica pelos mais variados pontos do globo, acaba por servir para esconder e esquecer crueldades bem mais infames que um pouco por todo lado ocorrem.
Tudo não passa de manobras de diversão propagandística.
Não sou ingénuo, tal como a diplomacia nunca o foi.
Criados como um período de tréguas entre as contínuas guerras promovidas pelas diversas cidades-estado que compunham a antiga civilização Helénica, os Jogos Olímpicos são um símbolo de Paz e Harmonia. Mas mesmo nesses vetustos tempos os Jogos eram usados politicamente, contudo o seu ritualismo simbólico era venerado, então.
Já nos tempos em que vivemos se perdeu o entendimento da importância dos rituais. A proliferação do ateismo e do laicismo tem contribuido para essa perda de percepção do valor do ritual. Não me proponho aqui explicar e revitalizar a importância dos cerimoniais na funcionalidade da comunidade humana, apenas constacto o facto. Até os mais cultos e intelectuais, cegos pelo seu empirismo, têm descaracterizado os ritos cerimoniais e a importância do seu simbolismo.
É lastimável o triste espectáculo que denominados activistas por um Tibete livre têm protagonizado nas actividades ritualisticas referentes à Chama Olímpica.
Não menosprezo a veemência sempre presente da discussão sobre a ocupação abusiva do Tibete por parte da China.
Não minimizo a necessidade de pressionar os líderes chineses a reverem a sua decisão sobre esta ocupação de expansionismo imperialista.
Mas acredito que há momentos e circunstâncias para tudo.
E, cada macaco no seu galho, cada coisa no seu lugar.
Entendo como abusivo o aproveitamento ignóbil a que têm recorrido esses acitvistas, que apelam pelo respeito dos direitos dos tibetanos atropelando os direitos daqueles que esperam alegria e festividade num evento que deveria lembrar a todos a necessidade dum convívio harmonioso. E o mesmo penso a respeito de todos aqueles que se aproveitam de outros momentos mais mediatizados para os desvirtuarem a propósito duma propaganda que entendem estar acima de qualquer outra dignidade.
Lamentavelmente as suas causas depois ficam esquecidas o resto do tempo, quando já não há ocasiões solenes para aviltar.
Gostaria ainda de lembrar que o drama dos tibetanos até nem é dos mais pungentes no mundo de hoje. E não é só a violação dos direitos humanos na China que deveria ser lembrada. O folclore grosseiro com que os activistas pretendem denegrir os desfiles da Chama Olímpica pelos mais variados pontos do globo, acaba por servir para esconder e esquecer crueldades bem mais infames que um pouco por todo lado ocorrem.
Tudo não passa de manobras de diversão propagandística.
Subscrever:
Mensagens (Atom)