segunda-feira, 20 de abril de 2009

AMOR-PRÓPRIO

O sistema social vigente falha completamente na formação humana do indivíduo. Os pais relaxam o seu dever de formação dos filhos nos educadores-de-infância (primeiro) e nos professores (depois), sem que estes tenham a competência e condições de o fazer sozinhos. Depois há toda uma pressão de concorrência e formatação da criança num sistema que peca por se exceder em errados pressupostos de modos vida e felicidade.

A formação do indivíduo, desde criança, é negligenciada em detrimento da sua habilitação como agente produtor-consumidor, numa sociedade de perfil exclusivamente materialista. A plenitude do indivíduo é irrelevante perante a sua capacidade de servir os propósitos gananciosos do sistema.

Nada, nem ninguém, está preparado para estimular amor-próprio em qualquer um de nós. Sentimento fundamental para a formação plena do indivíduo e indutora de felicidade. Como disse o meu amigo Jorge Oyafuso "se a pessoa não tiver amor-próprio, ela não terá amor consistente para com outras pessoas, e tampouco saberá o que é amar" e o Amor é fundamental para alcançar a Felicidade.

Nesta Nova Era é tempo de todos assumirmos os nossos papéis individuais e colectivos na busca e aplicação de todo o conhecimento acumulado por milénios de evolução humana. A ideia pós-industrial do homem-máquina caducou. Impõe-se a assunção da condição universal e espiritual do Ser Humano. Temos de nos esforçar por fazer muito melhor do que estamos fazendo. O comodismo e conformismo desta sociedade ilusoriamente pró-hedonista é pernicioso no seu desleixo pelo cuidado na formação humana individual.

Temos de reaprender os ancestrais hábitos de reconhecimento e respeito por cada indivíduo como um ser humano. Apenas com o estímulo e apoio de toda a sociedade se criam indivíduos psicologicamente equilibrados e saudáveis, em plena vivência dum amor-próprio capaz de lhes inspirar a felicidade que contribuirá para uma feliz harmonia geral.


Dedicatória: À memória dum Amigo que nunca conheci, mas com cujo pensamento tenho convivido através da Amizade da sua filha, a minha Amiga São Banza.

domingo, 12 de abril de 2009

LENHA E DESERTO

Todos nos penitenciamos pelo contributo nocivo da poluição, causada pela nossa civilização, nas mudanças climáticas e desertificação do nosso habitat. Mas não somos apenas nós, os ricos civilizados e industrializados, que poluímos e degradamos o meio-ambiente.

As populações pobres e aquelas deserdadas dos seus vínculos ancestrais com a Mãe Natureza, que vivem entre dois mundos, sem a nenhum deles pertencer, acabam por dar um contributo altamente nocivo na desmatação de florestas e savanas. A aculturação a que esses povos de início foram forçados e mais tarde se permitiram na perspectiva de alcançar um eldorado que nunca lhes sorriu, deixou-os sem rumos próprios. Não souberam, nem quiseram, retornar às suas práticas ancestrais e perduram num limbo anacrónico altamente nocivo. Falaciosamente sustentados por incorrectas políticas paternalistas, eles acabam por adquirir hábitos desajustados ao meio em que vivem.

A necessidade que todos têm de lume para confeccionar as suas refeições leva a que os mais pobres procurem nas florestas circundantes a lenha que necessitam para produzirem o fogo indispensável. Tal prática revela-se incorrecta e ainda mais nociva quando associada ao desmatamento por parte de madeireiros sem escrúpulos.

Em África o desmatamento da escassa vegetação da savana, pelas populações para a produção de lenha, a um ritmo superior ao do crescimento natural, leva a um empobrecimento do solo, que se torna arenoso. Inicia-se assim um processo de desertificação progressivo que avança com o deslocamento das areias sopradas pelos ventos. 

Já as zonas de floresta tropical são um alvo preferencial dos madeireiros que buscam o lucro com o comércio de madeiras exóticas. As grandes distâncias e a escassez de agentes e medidas de fiscalização e controlo, facilitam a proliferação deste comércio criminoso.

Tal se verifica igualmente na América do Sul e na Ásia, onde o crescimento populacional se junta também aos comportamentos que acima referi. Aqui ainda temos que considerar o desmatamento para a conversão dos terrenos selvagens em zonas agrícolas, de maior ou menor escala, mas igualmente perniciosos para a vida selvagem e a preservação dos ecossistemas.

A comunidade de países desenvolvidos possui os meios para ajudar a eliminar estas práticas. A ciência e a indústria têm o conhecimento suficiente para produzir pequenos fogões alimentados por energia solar e os países ricos o dinheiro suficiente para os distribuir nas zonas mais inóspitas e carentes do globo. Afinal o desmatamento para obtenção de lenha para a culinária acontece nas regiões mais expostas ao sol. O dinheiro para isso?! Não foi fácil os ricos arranjarem milhares de milhões de dólares para salvar a sua rica economia nesta crise?

Quanto ao comércio de madeiras exóticas e desmatamento para alimentação de fábricas de produção de papel, a comunidade de países desenvolvidos também tem muito a dizer sobre isso, tanto em termos de regulamentação do comércio, como no apoio logístico aos países mais carenciados.

A Humanidade já alcançou um patamar de evolução tecnológica e económica capaz de proporcionar a todos um modo de vida salutar e sustentável, sem que uns tenham uma cozinha atafulhada de maquinaria supérflua e outros tenham de abater árvores centenárias e por vezes milenares, para sobreviverem.